É como se as pessoas não tivessem memória.
É como se as pessoas
não lessem livros de história
Está ficando cada dia mais difícil assumir uma posição
política no país em que vivemos. Primeiro, porque os ideais dos nossos
representantes há muito, estão desprovidos de qualquer ideologia que seja.
Segundo, porque estamos vivendo uma espécie de roube coletivo de memória que
impede qualquer análise racional sobre o assunto . Terceiro, porque com a
gigantesca força das redes sociais, os fatos são distorcidos e manipulados de
uma maneira tão nefasta que se torna difícil saber se o que lemos é ou não
provido do mínimo de veracidade ou ética jornalística.
Não é de hoje que se critica a falta de ideologia nos partidos
brasileiros. Isso porque nos acostumamos a votar em pessoas, não em ideias - é
a velha mania do brasileiro de pessoalizar as relações para tirar delas
qualquer proveito que seja. Por isso, é
tão difícil para nós desassociar os partidos dos seus filiados. É como se, para
o bem e para o mal, não existisse joio e trigo; não existissem bons e maus
políticos e como se a parte representasse o todo. Sejamos sinceros: os
políticos também ajudam a fomentar essa noção de homogeneidade entre eles, em
virtude de suas alianças incoerentes e estapafúrdias, que utilizam como lema a
noção maquiavélica de que os fins justificam os meios.
Outro aspecto que se faz evidente é a incapacidade dos
brasileiros de lembrar o nosso passado muito recente de opressão, violação de
direitos humanos fundamentais, perseguição política e ideológica e violência
gratuita que marcaram as décadas de 60 e 70 durante a ditadura. Talvez esteja
aí uma das raízes da nossa resistência em assumir uma ideologia. Temos medo de
assumir o que pensamos, pois no passado isso significava violência e morte. De
certo modo, essa violência ainda subsiste, porém ela se expressa de outro modo.
As redes sociais se tornaram, ao mesmo tempo, um espaço de
liberdade (nelas podemos expressar o que pensamos) e de repressão. Isso porque
passamos pelo crivo da ditadura dos comentários revestidos de ódio e
julgamentos, pois, ainda nas redes, não conseguimos dissociar um posicionamento
político de uma característica ética/moral de quem o expressa. Claro que existe
uma linha tênue entre liberdade de expressão e defesa a crimes como apoio a ditadura,
nazismo, assassinatos, dentre outros. Sim, existem limites. E não é tão difícil
saber quando o atingimos – só quando não queremos admitir.
É nesse contexto que surgem as distorções de discurso e a
manipulação de ideais – terreno fértil para a formação de uma grande massa de
manobra incapaz de refletir sobre o que defende e para quem levanta suas
bandeiras.
Devemos ficar atentos para não nos tornarmos fantoches nas
mãos dos ventríloquos que lutam para comandar nossa compressão do mundo. É
difícil, mas não é impossível. Faz parte de um exercício diário de auto
questionamento e de crítica ao que ouvimos, lemos e debatemos nos nossos
espaços.
É necessário, também, um regaste constante da nossa
história, pois ela nos permite lembrar quem somos, o que conquistamos e o que
queremos conquistar. Vamos usar a rede, mas sem deixar que ela nos fisgue e
faça de nós uma presa fácil nas mãos de quem acha que possui o barco.